sexta-feira, 4 de junho de 2010

Tens a quem amar assim?

Após um incêndio no Parque Nacional Yellowstone dos Estados Unidos, começou a tarefa de limpeza e avaliação dos danos. Um guarda florestal ia caminhando pelo parque, quando encontrou uma ave carbonizada ao pé de uma árvore, numa posição bastante estranha, pois não parecia que morrera escapando, nem que fora apanhada, simplesmente estava com as suas asas fechadas ao redor de seu corpo. O guarda, intrigado, encostou nela suavemente com uma vara; três pequenos filhotes vivos apareceram debaixo das asas da mãe. Mãe que sabia que seus filhos não podiam escapar do fogo, por isso não abandonou, nem os levou para o ninho sobre a árvore, onde a fumaça subiria e o calor se acumularia. Levou-os para debaixo da árvore, provavelmente um por um, e ali ofereceu a sua vida, para salvar a vida deles. Podem imaginar a cena? O fogo os rodeando, os filhotes assustados e a mãe muito decidida, dizendo-lhes: “Não temam, venham debaixo das minhas asas, nada acontecerá”. Estavam tão seguros e protegidos do fogo, que horas depois do incêndio terminado ainda não tinham saído de lá. Estavam confiantes na proteção da mãe; somente após o encostar do guarda no corpo morto da mãe pensaram que deveriam sair. Tens a quem amar assim? Alguém tem te amado assim? Quem encontra um motivo pelo qual vale a pena viver encontra motivo pelo qual vale a pena dar a vida”


Texto de Veronica Balarezo – Quito Equador –
(Rede Latino Americana de Liturgia)

2 comentários:

Grande Encontro disse...

Foi quando ainda no carro minha amiga Lúcia me apresentou uma canção, uma linda canção de passagem, de despedida, que Maria Gadú compôs no leito de morte de Dona Cila, sua querida Vó, e entre inevitáveis lagrimas, falamos desses momentos de partida , ela recordou o falecimento da prima ocorrido a poucos dias, sua luta honrosa contra a morte que se avizinhava, seu esforço por não querer desamparar o filho, ainda tão criança, aos perigos da vida, não querer abandonar o amado, ainda namorado, as dores da solidão antecipada. Lúcia me contou que foi preciso o menino sussurrar no ouvido da mãe que eles ficariam bem e ela poderia deixar de sofrer e em paz partir. Lembrei-me da partida de meu Pai, de sua agonia naqueles últimos minutos tentando desesperadamente balbuciar o inexprimível, minhas irmãs segurando em suas mãos e o acalentando e aos soluços lhe confessando, que estávamos prontos. Logo me lembrei também de seus escritos sobre sua bisavô Alvina , sua sabedoria, suas lições sobre a vida e o rio.Finalmente me dei conta de que existem cantos que chamam para dança e cantos que chamam para o descanso, palavras para acordar , palavras para repousar.
Pastora, sinceramente espero que este teu novo espaço de comunicação ajude a todos nós neste difícil relacionamento com o finito, que possamos entender a vida e a morte não como contrarias ,contudo, partes de um mesmo relato , irmãs siamesas , e assim possamos aceitar nossa finitude e a finitude das pessoas a quem amamos.
Que essa consciência não nos leve a viver a vida na expectativa de uma tristeza anunciada e inevitável, mas, ao contrario nos acorde para festa da vida, para a aventura da vida, para as possibilidades da vida.
Agradeço-te Vera, por ter me ensinado com teus poéticos métodos, que ao contrario do que eu pensava; é a vida e não a morte cheia de mistérios.

Dona Cila
Maria Gadú
Composição: Maria Gadú
De todo o amor que eu tenho
Metade foi tu que me deu
Salvando minh`alma da vida
Sorrindo e fazendo o meu eu

Se queres partir ir embora
Me olha da onde estiver
Que eu vou te mostrar que eu to pronta
Me colha madura do pé

Salve, salve essa nega
Que axé ela tem
Te carrego no colo e te dou minha mão
Minha vida depende só do teu encanto
Cila pode ir tranquila
Teu rebanho tá pronto


Teu olho que brilha e não para
Tuas mãos de fazer tudo e até
A vida que chamo de minha
Neguinha, te encontro na fé

Me mostre um caminho agora
Um jeito de estar sem você
O apego não quer ir embora
Diaxo, ele tem que querer

Ó meu pai do céu, limpe tudo aí
Vai chegar a rainha
Precisando dormir
Quando ela chegar
Tu me faça um favor
Dê um banto a ela, que ela me benze aonde eu for

O fardo pesado que levas
Desagua na força que tens
Teu lar é no reino divino
Limpinho cheirando alecrim

Pedro Bezerra disse...

Sabe Vera, é muito importante ler historias como essa, pois mostra tambem a sensibilidade do guarda para perceber o que ali ocorrera. Talvez em nosso cotidiano tenhamos entre os seres humanos exemplos de dedicaçao e doacao como esta. Mas passamos ao largo.

beijoPedro