quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Viver é colocar-se a caminho


Através de nossos clamores chegamos novamente ao coração de Deus. Na tradição judaica o coração é o veículo da consciência e é também o motor que nos faz agir. A experiência com Deus passa pela experiência espiritual – viver essa experiência é ir para o alto mar sem temer sair do porto seguro. É acreditar que mesmo com os ventos contrários se chegará em terra firme. Com Deus os ventos ficam suportáveis. Por isso Ele é Deus.

Algumas vezes, nessa vida, é preciso caminhar por linhas já traçadas. Dessa forma, o caminhar fica mais fácil. Outras vezes, no entanto, é necessário e saudável, ir contra a maré, ir contra as linhas que se desenham à nossa frente e desenhar as nossas próprias. Talvez ainda sem jeito e mal traçadas porque não há mapa, nem caminho visível. Traçando caminhos diferentes dos que já nos foram dados encontraremos os nossos próprios monstros. E explorar o próprio labirinto e encarar o Minotauro que mora lá no fundo de nossa alma faz parte de um longo e grande processo de ir descobrindo novas rotas para si mesmo. Mas a vida se faz fazendo-a. Não tem outro jeito. Afinal, não somos árvore para ficarmos no mesmo lugar criando raízes.

De vez em quando, é claro, seguimos caminhos de outros, quando outros nos inspiram. Contudo, sem arriscar um passo novo, não saberemos que ritmo a vida pode ter reservado para a gente. Para triunfar é preciso entrar na luta, não dá para ficar só no banco de reservas! Se é preciso passar por uma floresta para seguir caminho, então, é preciso enfrentá-la. Mas há que empaque diante de uma árvore sem conseguir cruzar a floresta toda.

Quando ousamos ir para alto mar, explorar o labirinto, entrar no jogo ou enfrentar a floresta, podemos perder momentaneamente o equilíbrio. Mas é preciso arriscar dar aqueles passos que há muito tempo estamos ensaiando. Só ensaiar não basta é preciso partir para a estreia – conseguem imaginar um grupo de teatro ou banda que só ensaia e nunca se apresenta? Pois bem, é preciso entrar no palco.

De qualquer forma, por precaução, antes de tomar novos caminhos é bom calcular os novos traçados e a direção dos ventos, até porque, coragem não quer dizer ignorar cegamente o perigo. Coragem é vencer o perigo de olhos abertos e com a bússola certa.

Já diziam os antigos que o valor do sofrimento é aproximar-nos de Deus ensinando-nos a ser fortes quando somos fracos, corajosos quando temos medo e ensinando-nos a deixar para trás o que não podemos mais reter. Nenhum problema será resolvido se aguardarmos preguiçosamente que só Deus se preocupe com ele, é preciso colocar-se a caminho, colocar a vida na roda, fazer o que nos compete fazer e, para tudo isso, pedir a iluminação do Criador. Dessa maneira, não teremos dificuldades de assumir que, de algumas coisas, não demos conta. Mas Ele dará.
(Texto de Vera Cristina Weissheimer)



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