terça-feira, 30 de outubro de 2012

A vida é breve demais para não perdoarmos

 

“No meio do caminho tinha uma pedra.Tinha uma pedra no meio do caminho”

(Carlos Drummond de Andrade)


Sábio foi Drummond ao escrever o poema. Quantas pedras nos são colocadas no caminho? Quantas pedras nós mesmos colocamos em nosso caminho? Quantas vezes somos nós as pedras no caminho de outra pessoa? O fato é que haverá pedras! Então, o que fazer com elas? Vai depender unicamente de nós. Podemos construir muros ou pontes, prisões ou casas. Muitas pedras, no entanto, são mágoas que precisam ser removidas, perdoadas.

O dia 18 de setembro, aparece na minha agenda como sendo o “Dia do Perdão”, mas não foi uma data divulgada, nem celebrada, muito menos discutida em programas da mídia. Dos cartões com mensagens que deixamos na Capela Ecumênica do Hospital, aquele que traz a Oração do Perdão, é que por mais tempo fica sem precisar ser reposto. O perdão parece estar em baixa!

PERDÃO, não é um assunto religioso. Quero convidá-los a pensar no perdão como um assunto de saúde pública. Pessoas adoecem porque não perdoam. Quando perdoamos, nos libertamos de pedras que carregamos para todos os lados – um peso desnecessário que nos deixa doentes e cansados. Perdoar não significa esquecer. Se eu esquecer vou permitir que me magoem novamente, que me machuquem mais e mais uma vez. Perdoar significa libertar-me da dor que a mágoa causou.

Conheci, há alguns anos, Masataka e Keiko Ota. O filho pequeno do casal, Ives Ota, foi seqüestrado e morto. Um dos quatro seqüestradores era segurança da loja da família. Masataka quis matar os seqüestradores, quase enlouqueceu. Keiko temia perder também o marido. Procurou apoiar-se em sua fé. Por longos meses,ela recebia o marido ao final do dia e insistia para que juntos fizessem a Oração do Perdão. E, assim, fizeram até que conseguiram ficar mais leves. Masataka já não pensava em matar e surpreendeu a todos quando foi até a penitenciária. Quis olhar nos olhos de cada um deles. E, olho no olho, disse: “Eu perdôo você”. Na ocasião, foi questionado por uma jornalista sobre se isso significava que os seqüestradores poderiam ser soltos. “É claro que não”, disse Masataka, “eles terão que responder pelo que fizeram, mas eu já não os carrego comigo”.

Perdoar é algo que fazemos muito mais por nós, pela nossa paz interior, do que por quem nos magoou. Afinal, pedimos na Oração do Pai Nosso: que Deus nos perdoe os nossos pecados, assim como nós também perdoamos. É bom rever seriamente como anda essa nossa matemática. Queremos que Deus nos perdoe. E nós? Estamos conseguindo perdoar e tirar do caminho pesos, pedras e mágoas? A oração que o casal fez para encontrar paz e perdoar os assassinos do filho é esta que deixo aqui:


Oração do Perdão

Eu lhe perdoei e você me perdoou.
Eu e você somos um só perante Deus.
Eu o (a) amo e você me ama também;
Eu e você somos um só perante Deus.
Eu lhe agradeço e você me agradece.
Obrigado, obrigado, obrigado...
Não existe mais nenhum ressentimento entre nós.
Oro sinceramente por sua felicidade
Seja cada vez mais feliz...
Deus lhe perdoa. Portanto eu também o (a) perdôo.
Já perdoei a todas as pessoas
E acolho a todas elas com o Amor de Deus.
Da mesma forma, deus me perdoa os erros.
E me acolhe com o seu imenso amor.
(Movimento da Paz e Justiça Ives Ota)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Viver é colocar-se a caminho


Através de nossos clamores chegamos novamente ao coração de Deus. Na tradição judaica o coração é o veículo da consciência e é também o motor que nos faz agir. A experiência com Deus passa pela experiência espiritual – viver essa experiência é ir para o alto mar sem temer sair do porto seguro. É acreditar que mesmo com os ventos contrários se chegará em terra firme. Com Deus os ventos ficam suportáveis. Por isso Ele é Deus.

Algumas vezes, nessa vida, é preciso caminhar por linhas já traçadas. Dessa forma, o caminhar fica mais fácil. Outras vezes, no entanto, é necessário e saudável, ir contra a maré, ir contra as linhas que se desenham à nossa frente e desenhar as nossas próprias. Talvez ainda sem jeito e mal traçadas porque não há mapa, nem caminho visível. Traçando caminhos diferentes dos que já nos foram dados encontraremos os nossos próprios monstros. E explorar o próprio labirinto e encarar o Minotauro que mora lá no fundo de nossa alma faz parte de um longo e grande processo de ir descobrindo novas rotas para si mesmo. Mas a vida se faz fazendo-a. Não tem outro jeito. Afinal, não somos árvore para ficarmos no mesmo lugar criando raízes.

De vez em quando, é claro, seguimos caminhos de outros, quando outros nos inspiram. Contudo, sem arriscar um passo novo, não saberemos que ritmo a vida pode ter reservado para a gente. Para triunfar é preciso entrar na luta, não dá para ficar só no banco de reservas! Se é preciso passar por uma floresta para seguir caminho, então, é preciso enfrentá-la. Mas há que empaque diante de uma árvore sem conseguir cruzar a floresta toda.

Quando ousamos ir para alto mar, explorar o labirinto, entrar no jogo ou enfrentar a floresta, podemos perder momentaneamente o equilíbrio. Mas é preciso arriscar dar aqueles passos que há muito tempo estamos ensaiando. Só ensaiar não basta é preciso partir para a estreia – conseguem imaginar um grupo de teatro ou banda que só ensaia e nunca se apresenta? Pois bem, é preciso entrar no palco.

De qualquer forma, por precaução, antes de tomar novos caminhos é bom calcular os novos traçados e a direção dos ventos, até porque, coragem não quer dizer ignorar cegamente o perigo. Coragem é vencer o perigo de olhos abertos e com a bússola certa.

Já diziam os antigos que o valor do sofrimento é aproximar-nos de Deus ensinando-nos a ser fortes quando somos fracos, corajosos quando temos medo e ensinando-nos a deixar para trás o que não podemos mais reter. Nenhum problema será resolvido se aguardarmos preguiçosamente que só Deus se preocupe com ele, é preciso colocar-se a caminho, colocar a vida na roda, fazer o que nos compete fazer e, para tudo isso, pedir a iluminação do Criador. Dessa maneira, não teremos dificuldades de assumir que, de algumas coisas, não demos conta. Mas Ele dará.
(Texto de Vera Cristina Weissheimer)



sábado, 20 de outubro de 2012

Caindo nas mãos de Deus



Há dias em que perguntamos: Onde Deus esteve quando aconteceu o acidente? Para onde Deus estava olhando que não viu que eu estava precisando Dele? A vida estava doendo tanto...

Nunca saberemos o que Deus estava pensando, fazendo ou planejando. E, desconfie de quem disser que sabe! Deus é Deus e não nos compete “achar” que Ele fará isso ou aquilo.

Martin Luther escreveu: “Ore como se tudo dependesse de Deus, e aja como se tudo dependesse de você”. Deus faz a parte Dele e nós temos que fazer a nossa.

O ser humano age de forma errada e culpa Deus. Um motorista alcoolizado invade casas e pontos de ônibus e, inocentes morrem ou se machucam. Não respeitamos a natureza e, um dia, o mar invade a cidade, o morro se desfaz como gelatina, a ribanceira desaba sobre casas e carros. Há quem tenha fumado por 40 anos e, ao descobrir que está com câncer, pergunta: “Por que eu?”.

Claro que o sofrimento de inocentes é inadmissível. Como diz um amigo: “Tudo o que não entendo, tudo para o que não tenho respostas, estou anotando num caderninho, e um dia quando estiver diante de Deus, Ele terá que me explicar!” Com bom humor o padre está querendo dizer que há coisas para as quais não temos e nunca teremos respostas, a não ser, quando estivermos nas mãos de Deus. Mas o que podemos fazer é crer - confiar - que, mesmo que tudo desmorone em nossa vida, mesmo que todos nos abandonem, mesmo que não reste mais nada, podemos ainda saber que Deus está ali, caminhando em silêncio conosco, enxugando lágrimas, algumas vezes, até nos carregando. Ele faz isso através de amigos e amigas que surgem de lugares inesperados, de ajuda que vem de onde menos esperamos. Deus faz, sim, seus anjos acamparem ao redor de que tem fé.

Tenho certeza, que você que está lendo agora este texto, sabe do que estou falando. Olhe um pouco para trás, em sua vida. Faça uma retrospectiva e irá lembrar que houve momentos que já não tinha mais forças. E, mesmo assim, sobreviveu e superou. Hoje você se pergunta: Como consegui? De onde veio força, coragem, perseverança e, até mesmo, a teimosia de viver? A força que você teve não era sua.

Deus é Deus, não se deixa governar por nossos desejos, mas está escrito que Ele ouve o clamor de seu povo. Então, oremos para que nossas dores e angústias possam ser colocadas nas mãos do Pai, e ali serem deixadas. Precisamos lembrar, também, de agradecer, de dar graças pelas alegrias e conquistas, porque as bênçãos também vêm. Contudo, na maior parte do tempo, estamos tão ocupados em reclamar, lamentar, que não vemos as bênçãos que estão, dia a pós dia, acontecendo.

Que as mãos de Deus os abençoem e guardem.