segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Assentem os trilhos, o trem um dia vai chegar



No filme (e no livro) “Sob o sol da Toscana” de 2003, há uma cena encantadora. Enquanto arruma os gravetos na lareira, um gentil corretor de imóveis narra uma história para tentar animar a personagem Frances, uma mulher machucada pela vida, que comprou uma velha casa na Toscana, com a intenção de restaurar a casa e a si mesma. “Senhora", diz o corretor, "entre a Áustria e a Itália há uma parte nos Alpes chamada Semmering. É uma região de montanhas íngremes e altas. Lá assentaram os trilhos para ligar Viena a Veneza, antes mesmo que houvesse trem para percorrer o trajeto. Construíram por que acreditavam que um dia o trem chegaria até lá”. De Veneza à Viena são 420 quilômetros, Semmering está no meio do caminho, com suas montanhas intransponíveis é uma estância turística que foi declarado patrimônio da humanidade pela UNESCO, em 1998. Aquele corretor sabia o que estava dizendo, ou ele tinha boas razões para afirmar que não devemos nos preocupar com a vida e seus “por quês”; tenham sonhos e assentem os trilhos, o trem um dia vai chegar.


terça-feira, 30 de outubro de 2012

A vida é breve demais para não perdoarmos

 

“No meio do caminho tinha uma pedra.Tinha uma pedra no meio do caminho”

(Carlos Drummond de Andrade)


Sábio foi Drummond ao escrever o poema. Quantas pedras nos são colocadas no caminho? Quantas pedras nós mesmos colocamos em nosso caminho? Quantas vezes somos nós as pedras no caminho de outra pessoa? O fato é que haverá pedras! Então, o que fazer com elas? Vai depender unicamente de nós. Podemos construir muros ou pontes, prisões ou casas. Muitas pedras, no entanto, são mágoas que precisam ser removidas, perdoadas.

O dia 18 de setembro, aparece na minha agenda como sendo o “Dia do Perdão”, mas não foi uma data divulgada, nem celebrada, muito menos discutida em programas da mídia. Dos cartões com mensagens que deixamos na Capela Ecumênica do Hospital, aquele que traz a Oração do Perdão, é que por mais tempo fica sem precisar ser reposto. O perdão parece estar em baixa!

PERDÃO, não é um assunto religioso. Quero convidá-los a pensar no perdão como um assunto de saúde pública. Pessoas adoecem porque não perdoam. Quando perdoamos, nos libertamos de pedras que carregamos para todos os lados – um peso desnecessário que nos deixa doentes e cansados. Perdoar não significa esquecer. Se eu esquecer vou permitir que me magoem novamente, que me machuquem mais e mais uma vez. Perdoar significa libertar-me da dor que a mágoa causou.

Conheci, há alguns anos, Masataka e Keiko Ota. O filho pequeno do casal, Ives Ota, foi seqüestrado e morto. Um dos quatro seqüestradores era segurança da loja da família. Masataka quis matar os seqüestradores, quase enlouqueceu. Keiko temia perder também o marido. Procurou apoiar-se em sua fé. Por longos meses,ela recebia o marido ao final do dia e insistia para que juntos fizessem a Oração do Perdão. E, assim, fizeram até que conseguiram ficar mais leves. Masataka já não pensava em matar e surpreendeu a todos quando foi até a penitenciária. Quis olhar nos olhos de cada um deles. E, olho no olho, disse: “Eu perdôo você”. Na ocasião, foi questionado por uma jornalista sobre se isso significava que os seqüestradores poderiam ser soltos. “É claro que não”, disse Masataka, “eles terão que responder pelo que fizeram, mas eu já não os carrego comigo”.

Perdoar é algo que fazemos muito mais por nós, pela nossa paz interior, do que por quem nos magoou. Afinal, pedimos na Oração do Pai Nosso: que Deus nos perdoe os nossos pecados, assim como nós também perdoamos. É bom rever seriamente como anda essa nossa matemática. Queremos que Deus nos perdoe. E nós? Estamos conseguindo perdoar e tirar do caminho pesos, pedras e mágoas? A oração que o casal fez para encontrar paz e perdoar os assassinos do filho é esta que deixo aqui:


Oração do Perdão

Eu lhe perdoei e você me perdoou.
Eu e você somos um só perante Deus.
Eu o (a) amo e você me ama também;
Eu e você somos um só perante Deus.
Eu lhe agradeço e você me agradece.
Obrigado, obrigado, obrigado...
Não existe mais nenhum ressentimento entre nós.
Oro sinceramente por sua felicidade
Seja cada vez mais feliz...
Deus lhe perdoa. Portanto eu também o (a) perdôo.
Já perdoei a todas as pessoas
E acolho a todas elas com o Amor de Deus.
Da mesma forma, deus me perdoa os erros.
E me acolhe com o seu imenso amor.
(Movimento da Paz e Justiça Ives Ota)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Viver é colocar-se a caminho


Através de nossos clamores chegamos novamente ao coração de Deus. Na tradição judaica o coração é o veículo da consciência e é também o motor que nos faz agir. A experiência com Deus passa pela experiência espiritual – viver essa experiência é ir para o alto mar sem temer sair do porto seguro. É acreditar que mesmo com os ventos contrários se chegará em terra firme. Com Deus os ventos ficam suportáveis. Por isso Ele é Deus.

Algumas vezes, nessa vida, é preciso caminhar por linhas já traçadas. Dessa forma, o caminhar fica mais fácil. Outras vezes, no entanto, é necessário e saudável, ir contra a maré, ir contra as linhas que se desenham à nossa frente e desenhar as nossas próprias. Talvez ainda sem jeito e mal traçadas porque não há mapa, nem caminho visível. Traçando caminhos diferentes dos que já nos foram dados encontraremos os nossos próprios monstros. E explorar o próprio labirinto e encarar o Minotauro que mora lá no fundo de nossa alma faz parte de um longo e grande processo de ir descobrindo novas rotas para si mesmo. Mas a vida se faz fazendo-a. Não tem outro jeito. Afinal, não somos árvore para ficarmos no mesmo lugar criando raízes.

De vez em quando, é claro, seguimos caminhos de outros, quando outros nos inspiram. Contudo, sem arriscar um passo novo, não saberemos que ritmo a vida pode ter reservado para a gente. Para triunfar é preciso entrar na luta, não dá para ficar só no banco de reservas! Se é preciso passar por uma floresta para seguir caminho, então, é preciso enfrentá-la. Mas há que empaque diante de uma árvore sem conseguir cruzar a floresta toda.

Quando ousamos ir para alto mar, explorar o labirinto, entrar no jogo ou enfrentar a floresta, podemos perder momentaneamente o equilíbrio. Mas é preciso arriscar dar aqueles passos que há muito tempo estamos ensaiando. Só ensaiar não basta é preciso partir para a estreia – conseguem imaginar um grupo de teatro ou banda que só ensaia e nunca se apresenta? Pois bem, é preciso entrar no palco.

De qualquer forma, por precaução, antes de tomar novos caminhos é bom calcular os novos traçados e a direção dos ventos, até porque, coragem não quer dizer ignorar cegamente o perigo. Coragem é vencer o perigo de olhos abertos e com a bússola certa.

Já diziam os antigos que o valor do sofrimento é aproximar-nos de Deus ensinando-nos a ser fortes quando somos fracos, corajosos quando temos medo e ensinando-nos a deixar para trás o que não podemos mais reter. Nenhum problema será resolvido se aguardarmos preguiçosamente que só Deus se preocupe com ele, é preciso colocar-se a caminho, colocar a vida na roda, fazer o que nos compete fazer e, para tudo isso, pedir a iluminação do Criador. Dessa maneira, não teremos dificuldades de assumir que, de algumas coisas, não demos conta. Mas Ele dará.
(Texto de Vera Cristina Weissheimer)



sábado, 20 de outubro de 2012

Caindo nas mãos de Deus



Há dias em que perguntamos: Onde Deus esteve quando aconteceu o acidente? Para onde Deus estava olhando que não viu que eu estava precisando Dele? A vida estava doendo tanto...

Nunca saberemos o que Deus estava pensando, fazendo ou planejando. E, desconfie de quem disser que sabe! Deus é Deus e não nos compete “achar” que Ele fará isso ou aquilo.

Martin Luther escreveu: “Ore como se tudo dependesse de Deus, e aja como se tudo dependesse de você”. Deus faz a parte Dele e nós temos que fazer a nossa.

O ser humano age de forma errada e culpa Deus. Um motorista alcoolizado invade casas e pontos de ônibus e, inocentes morrem ou se machucam. Não respeitamos a natureza e, um dia, o mar invade a cidade, o morro se desfaz como gelatina, a ribanceira desaba sobre casas e carros. Há quem tenha fumado por 40 anos e, ao descobrir que está com câncer, pergunta: “Por que eu?”.

Claro que o sofrimento de inocentes é inadmissível. Como diz um amigo: “Tudo o que não entendo, tudo para o que não tenho respostas, estou anotando num caderninho, e um dia quando estiver diante de Deus, Ele terá que me explicar!” Com bom humor o padre está querendo dizer que há coisas para as quais não temos e nunca teremos respostas, a não ser, quando estivermos nas mãos de Deus. Mas o que podemos fazer é crer - confiar - que, mesmo que tudo desmorone em nossa vida, mesmo que todos nos abandonem, mesmo que não reste mais nada, podemos ainda saber que Deus está ali, caminhando em silêncio conosco, enxugando lágrimas, algumas vezes, até nos carregando. Ele faz isso através de amigos e amigas que surgem de lugares inesperados, de ajuda que vem de onde menos esperamos. Deus faz, sim, seus anjos acamparem ao redor de que tem fé.

Tenho certeza, que você que está lendo agora este texto, sabe do que estou falando. Olhe um pouco para trás, em sua vida. Faça uma retrospectiva e irá lembrar que houve momentos que já não tinha mais forças. E, mesmo assim, sobreviveu e superou. Hoje você se pergunta: Como consegui? De onde veio força, coragem, perseverança e, até mesmo, a teimosia de viver? A força que você teve não era sua.

Deus é Deus, não se deixa governar por nossos desejos, mas está escrito que Ele ouve o clamor de seu povo. Então, oremos para que nossas dores e angústias possam ser colocadas nas mãos do Pai, e ali serem deixadas. Precisamos lembrar, também, de agradecer, de dar graças pelas alegrias e conquistas, porque as bênçãos também vêm. Contudo, na maior parte do tempo, estamos tão ocupados em reclamar, lamentar, que não vemos as bênçãos que estão, dia a pós dia, acontecendo.

Que as mãos de Deus os abençoem e guardem.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Mais amor, por favor!



“Talvez a fé, a esperança e o amor não resolvam
tudo e nem todos os nossos problemas.
Mas a vida sempre terá valido
mais a pena se tivermos tido a sabedoria
de ter fé e esperança e a coragem de amar.”

(Vera Cristina Weissheimer)



“O Perfume”, um romance do escritor Patrick Süskind, conta a vida de Jean-Baptiste, que nasce num mau-cheiroso mercado de peixes. O personagem cresce tendo um olfato extraordinariamente apurado, mas ele mesmo não possui cheiro algum. Por causa de seu estranho dom decidiu guardar cheiros de todas as espécies. Acabou por tornar-se perfumista desejando criar o perfume Absoluto. Não contarei o enredo por que vai perder a graça. Eu tenho pensado sobre a necessidade de termos, talvez não o Perfume Absoluto, mas mais perfume do que mau-cheiro em nossos dias. Há odores muito mais estranhos que estão corrompendo vidas: a falta de gentileza, de educação, de consideração, de atenção, de amor e de perdão. Esses são fedores que corrompem e adoecem a humanidade. Mas a GENTILEZA pode aproximar, o PERDÃO pode curar e o AMOR pode salvar.



Na cidade de São Paulo alguém resolveu escrever em algumas paredes, muros e bancas de jornal a frase: “MAIS AMOR POR FAVOR”. Para mim isso soou como um pedido público para que a vida seja MAIS e não MENOS. Temos nos acostumado a amor de menos, a vida de menos, a carinho de menos.
Que Deus, que é AMOR, possa transformar mentes, corações, instituições e relações para vivermos tempos EM QUE O AMOR SEJA O PERFUME ABSOLUTO A PERFUMAR NOSSAS VIDAS.



Sugestão de oração:

Tu que és Amor, toca corações e mentes para que relações possam ser transformadas, que o mau cheiro do mundo possa dar lugar a perfumes como perdão, gentileza, amor, presença, carinho, confiança... capacita-nos a sermos verdadeiramente irmãos e irmãs, onde um novo perfume possa se fazer sentir. Amém



Vera Cristina Weissheimer




quarta-feira, 7 de março de 2012

Dia Internacional da Mulher

No dia 8 de março, dia internacional da mulher, convido para acendermos uma vela lilás por todas as mulheres que deram suas vidas por um mundo melhor, e por outras tantas que dedicam suas vidas na construção de uma sociedade mais irmanada. Também nas nossas comunidades, as mulheres, parceiras dos homens, são força criadora e criativa de nossa Igreja.



Vela acesa. Em oração pedimos ao Pai que derrame sua bênção amorosa sobre as mulheres, para que continuem sendo fortes em toda sua fragilidade. Que derrame sua bênção também sobre os homens, parceiros de caminho e construção de um novo tempo de justiça e paz.


No voy a preguntarme

No voy a preguntarme de dónde vengo
ni a dónde iré después de la tormenta
ni que estrella es la mía en este tránsito;
lo que si me pregunto es por qué el mundo
es lo que es y nadie puede nada.
Cuando se grita, cuando se cae enfermo,
cuando se sueña, cuando se va deprisa,
cuando se intenta amar, cuando se odia,
hay un hielo que cubre todo gesto



  • Concha Mendez

quinta-feira, 1 de março de 2012

A idade e a mudança

Lya Luft
Este comentário da escritora, tradutora e poetisa vale para ambos os sexos, com qualquer idade.
Ela está com 74 anos. 
 

"Mês passado participei de um evento sobre as mulheres no mundo contemporâneo.
Era um bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres de todas as raças, credos e idades.
E por falar em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a minha e, como não me envergonho dela, respondi.
Foi um momento inesquecível... A platéia inteira fez um 'oooohh' de descrédito.
Aí fiquei pensando: 'pô, estou neste auditório há quase uma hora exibindo minha inteligência,
e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho? Onde é que nós estamos?'

Onde, não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado 'juventude eterna'.
Estão todos em busca da reversão do tempo. Acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas.
Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas, mesmo em idade avançada.
A fonte da juventude chama-se 'mudança'.
De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver antes da hora. A única maneira de ser idoso sem envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para guinadas.
Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos.  Mudança, o que vem a ser tal coisa?
Minha mãe recentemente mudou do apartamento enorme  em que morou a vida toda para um bem menorzinho. Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu.
Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos. Rejuvenesceu.
Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela vai à praia sempre que tem sol. Rejuvenesceu.
Toda mudança cobra um alto preço emocional.
Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza.
Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face. Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna.
Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem,
só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho.
Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar. Olhe-se no espelho..."

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

El Silencio De Beethoven..

O silêncio



Perguntei a uma paciente: "O que posso fazer por você?"; e ela abriu  com vagar os olhos  cansados e disse: "Me deixe quieta... preciso do silêncio, só isso." Havia, no entanto, naquele quarto, quem quisesse fazer orações intermináveis, havia quem quisesse ver a novela da tarde, havia quem no intuito de ser companhia para a paciente, estava jogando dominó numa pequena mesa ao lado de uma imagem de Nossa Senhora. Mas ninguém lembrou de tentar saber o que a paciente queria. Ela que está em passos vagarosos, e está ciente disso, fazendo a sua travessia, pediu por silêncio. A leucemia tomou conta de cada célula. 
Ao ouvir o pedido da paciente, fui tomada  por um constrangimento doído. Somos  egoístas. Não admitimos que a morte faça parte de nossa vida, e não admitimos que nossos mais queridos tenham que morrer. "Afinal, de alguma coisa temos que morrer", disse me outra paciente.
Ela pedia por silêncio. Ora, o silêncio tem sons de poesia, tons de reverência diante do divino. O silêncio ajuda no-encontro-conosco-mesmos, "pode ajudar-nos a ganhar distância em relação às nossas raivas e rancores", escreve Anselm Grün. O silêncio verdadeiro e meditativo nos põe em contato com nossos desencontros, e desenganos e por isso é curativo. Porque  nos unge com a graça da re-conciliação com nossa alma - aquela parte em nós, onde cada um é como é, sem máscaras e meias verdades.  Esse encontro mais profundo com nossa alma é importante para a paz nessa caminhada.


Silêncio também queria o paciente que deixou numa carta as instruções para seus penúltimos momentos -- sim, penúltimos, porque últimos, não sabemos quais são. Queria todo mundo ao seu redor e que a música que tocasse no quarto até ele parar de respirar deveria ser  "O Silêncio", de Beethoven. E assim foi feito. 


Escrevo isso para homenagear todos aqueles e aquelas que estão fazendo sua caminhada e nem sempre tem seu desejo de silêncio e quietude respeitadas.


(Dica de leitura: "As exigências do silêncio" de Anselm Grün)

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

os cinco maiores arrependimentos dos pacientes terminais

Os cinco maiores arrependimentos dos pacientes terminais

Recentemente foi publicado nos Estados Unidos um livro que tem tudo para se transformar em um best seller daqueles que ajudam muita gente a mudar sua forma de enxergar a vida. The top five regrets of the dying (algo como “Os cinco principais arrependimentos de pacientes terminais”) foi escrito por Bonnie Ware, uma enfermeira especializada em cuidar de pessoas próximas da morte.
Para analisar a publicação, convidamos a Dra. Ana Cláudia Arantes – geriatra e especialista em cuidados paliativos do Einstein – que comentou, de acordo com a sua experiência no hospital, cada um dos arrependimentos levantados pela enfermeira americana. Confira abaixo.

1. Eu gostaria de ter tido coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim

“À medida que a pessoa se dá conta das limitações e da progressão da doença, esse sentimento provoca uma necessidade de rever os caminhos escolhidos para a sua vida, agora reavaliados com o filtro da consciência da morte mais próxima”, explica Dra. Ana Cláudia.
“É um sentimento muito frequente nessa fase. É como se, agora, pudessem entender que fizeram escolhas pelas outras pessoas e não por si mesmas. Na verdade, é uma atitude comum durante a vida. No geral, acabamos fazendo isso porque queremos ser amados e aceitos. O problema é quando deixamos de fazer as nossas próprias escolhas”, explica a médica.
“Muitas pessoas reclamam de que trabalharam a vida toda e que não viveram tudo o que gostariam de ter vivido, adiando para quando tiverem mais tempo depois de se aposentarem. Depois, quando envelhecem, reclamam que é quando chegam também as doenças e as dificuldades”, conta.

2. Eu gostaria de não ter trabalhado tanto

“Não é uma sensação que acontece somente com os doentes. É um dilema da vida moderna. Todo mundo reclama disso”, diz a geriatra.
“Mas o mais grave é quando se trabalha em algo que não se gosta. Quando a pessoa ganha dinheiro, mas é infeliz no dia a dia, sacrifica o que não volta mais: o tempo”, afirma.
“Este sentimento fica mais grave no fim da vida porque as pessoas sentem que não têm mais esse tempo, por exemplo, pra pedir demissão e recomeçar”.

3. Eu gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos

“Quando estão próximas da morte, as pessoas tendem a ficar mais verdadeiras. Caem as máscaras de medo e de vergonha e a vontade de agradar. O que importa, nesta fase, é a sinceridade”, conta.
“À medida que uma doença vai avançando, não é raro escutar que a pessoa fica mais carinhosa, mais doce. A doença tira a sombra da defesa, da proteção de si mesmo, da vingança. No fim, as pessoas percebem que essas coisas nem sempre foram necessárias”.
“A maior parte das pessoas não quer ser esquecida, quer ser lembrada por coisas boas. Nesses momentos finais querem dizer que amam, que gostam, querem pedir desculpas e, principalmente, querem sentir-se amadas. Quando se dão conta da falta de tempo, querem dizer coisas boas para as pessoas”, explica a médica.

4. Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos

“Nem sempre se tem histórias felizes com a própria família, mas com os amigos, sim. Os amigos são a família escolhida”, acredita a médica. “Ao lado dos amigos nós até vivemos fases difíceis, mas geralmente em uma relação de apoio”, explica.
“Não há nada de errado em ter uma família que não é legal. Quase todo mundo tem algum problema na família. Muitas vezes existe muita culpa nessa relação. Por isso, quando se tem pouco tempo de vida, muitas vezes o paciente quer preencher a cabeça e o tempo com coisas significativas e especiais, como os momentos com os amigos”.
“Dependendo da doença, existe grande mudança da aparência corporal. Muitos não querem receber visitas e demonstrar fraquezas e fragilidades. Nesse momento, precisam sentir que não vão ser julgados e essa sensação remete aos amigos”, afirma.

5. Eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz

“Esse arrependimento é uma conseqüência das outras escolhas. É um resumo dos outros para alguém que abriu mão da própria felicidade”.
“Não é uma questão de ser egoísta, mas é importante para as pessoas ter um compromisso com a realização do que elas são e do que elas podem ser. Precisam descobrir do que são capazes, o seu papel no mundo e nas relações. A pessoa realizada se faz feliz e faz as pessoas que estão ao seu lado felizes também”, explica.
“A minha experiência mostra que esse arrependimento é muito mais dolorido entre as pessoas que tiveram chance de mudar alguma coisa. As pessoas que não tiveram tantos recursos disponíveis durante a vida e que precisaram lutar muito para viver, com pouca escolha, por exemplo, muitas vezes se desligam achando-se mais completas, mais em paz por terem realmente feito o melhor que podiam fazer. Para quem teve oportunidade de fazer diferente e não fez, geralmente é bem mais sofrido do ponto de vista existencial”, alerta.

Dica da especialista

“O que fica bastante claro quando vejo histórias como essas é que as pessoas devem refletir sobre suas escolhas enquanto têm vida e tempo para fazê-las”.
“Minha dica é a seguinte: se você pensa que, no futuro, pode se arrepender do que está fazendo agora, talvez não deva fazer. Faça o caminho que te entregue paz no fim. Para que no fim da vida, você possa dizer feliz: eu faria tudo de novo, exatamente do mesmo jeito”.
De acordo com Dra. Ana Cláudia, livros como este podem ajudar as pessoas a refletirem melhor sobre suas escolhas e o modo como se relacionam com o mundo e consigo mesmas, se permitindo viver de uma forma melhor. “Ele nos mostra que as coisas importantes para nós devem ser feitas enquanto temos tempo”, conclui a médica.
Publicado em janeiro/2012.entes-terminais.aspx

A vida...



"A morte é mais universal que a vida; todo mundo morre, mas nem todo mundo vive." (Alan Sachs)

"Estou convencido de que o medo de morrer, de nossa vida chegar ao fim, não tira tanto nosso sono quanto o medo... que atinge a todos de que talvez não tenhamos vivido." (Harold Kushner)


(Dica de leitura: "Quando coisas ruins acontecem às pessoas boas" e  "Quem precisa de Deus?" de Harold Kushner)

a bênção...




"A bênção do Deus de Sara, Abraão e Agar, a bênção do Filho nascido de mulher. A bênção do Espírito Santo de amor, que cuida com carinho qual mãe cuida da gente, esteja sobre todos e todas nós. Amém."