quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A morte é só um ponto de vista...

            Talvez, se o dia amanhecesse diferente sem que eu tivesse tanta lágrima no coração. Sem que meus cabelos estivessem grudados na pele com o choro da noite e sem meus olhos fundos de insônia. Se minhas janelas abrissem por inteiro, se minhas flores não murchassem, se não fizesse tanto frio lá fora, se eu não tivesse tanta dor no meu grito, se a faca sobre a mesa fosse mais afiada e cortasse a garganta sem sujar o chão. Se a geladeira não estivesse tão fria e o sol não estivesse tão quente. Se minha voz não falhasse quando tento sair de onde me prendo. Se minhas mãos não ficassem paralisadas quando tento abrir a porta. Se.
            Talvez a alegria ressurgisse e a morte fosse embora. A morte às vezes é encantadora, como um amor de olhos serenos e sedutores, anestesia e parece curar a dor, mas o que faz mesmo é nos envolver com seus véus e tirar nos a vontade de continuar entre os vivos. Outras vezes... Ah! Outras vezes, é assustadora porque leva a sério as nossas vontades de morrer. Cuidado, não fale muito alto os seus desejos de morrer, porque você pode ser ouvido.
            Certa vez, me peguei pelejando com a morte e quase fui derrotada. Foi terrível, saí rasgada, arranhada, perdi pedaços. Eu queria era ficar mais um bocadinho. Não queria ir. Não era hora. Então, parei de pedir por ela.
            Ainda dá vontade de me escafeder, mas vejo tanta morte ao meu redor que achei melhor fazer as pazes com a vida. Não me assusto com os vivos mortos ou, quem sabe, os mortos vivos. Morte. Vida. Tudo é um ponto de vista.
Se a fome não me matar, então o vinho que bebo para fazer a vida melhor vai aumentar o número de meus dias. Se as dores que me esquartejam a carne não me vencerem então, o dia que vem para aliviar a noite me fará acordar novamente. A morte já não me assusta, mas ainda prefiro ficar entre os vivos.

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