sexta-feira, 16 de julho de 2010

Quem foi Cora Coralina



Chamava-se, de batismo, Ana Lins do Guimarães Peixoto. A reconhecida poetisa nasceu no Estado de Goiás em 20 de agosto de 1889 e morreu em 10 de abril de 1985. Mas, o reconhecimento não veio fácil ou logo.

Dizem que chamar Cora Coralina de poetisa é restringir seu talento. Era também contista, cronista de mão cheia e até mesmo jornalista, pois é sabido que tinha imensa habilidade de observar os acontecimentos cotidianos, retratando-os com fidelidade. O dom da escrita a acompanhava desde cedo. Tanto que aos 15 anos de idade, tornou-se Cora, uma maneira de esconder sua verdadeira identidade, pois naquela época “moça direita” não perdia tempo com escritos. Coralina surgiu depois e o significado não poderia ser mais poético: Cora Coralina quer dizer coração vermelho.

Da casa dos pais, Ana Lins partiu para São Paulo. Ela e Cantídio Tolentino Brêtas apaixonaram-se e fugiram para Jaboticabal (SP). Teve seis filhos. Lá levou a vida que a maioria dos brasileiros leva, renunciou vontades e sonhos para prover o sustento da família. A escritora saiu de cena, foi impedida de crescer, enquanto a trabalhadora, mãe e esposa assumia os compromissos da vida. Foi costureira, vendedora de livros, comerciante. Mas ainda assim, nunca deixou de escrever e de se empenhar em ajudar, principalmente às mulheres. Ana sugeriu a criação de um partido feminino e escreveu até mesmo um manifesto de agremiação.

Depois de viúva, já não havia quem lhe impedisse de se expressar por meio das palavras (dizem que seu marido a impedira de participar da Semana de Arte Moderna de 1922). Aos 70 anos aprendeu a datilografar e, entre retalhos de textos, produziu seu primeiro livro - Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais – aos 75 anos. Em 1976 lançou Meu Livro de Cordel e em 1980, recebeu uma carta de Carlos Drummond de Andrade, repleta de elogios sobre seu trabalho. Foi após a divulgação dessa carta que Cora Coralina tornou-se conhecida no país todo.




Todas as Vidas

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d'água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
-Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera
das obscuras!


Cora Coralina

nossas tantas portas...

“Há portas de abrir e portas de fechar. 
Há portas de escancarar e portas de trancar.
Há portas que abrem para dentro.
Há portas que abrem para fora.

Cuidado para não confundir umas com as outras.”


(Vera Cristina Weissheimer)

Não sei se a vida é curta ou longa...

Não sei se a vida é curta ou longa demais para nós. Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo: é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira e pura.
(Cora Coralina)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Tens a quem amar assim?

Após um incêndio no Parque Nacional Yellowstone dos Estados Unidos, começou a tarefa de limpeza e avaliação dos danos. Um guarda florestal ia caminhando pelo parque, quando encontrou uma ave carbonizada ao pé de uma árvore, numa posição bastante estranha, pois não parecia que morrera escapando, nem que fora apanhada, simplesmente estava com as suas asas fechadas ao redor de seu corpo. O guarda, intrigado, encostou nela suavemente com uma vara; três pequenos filhotes vivos apareceram debaixo das asas da mãe. Mãe que sabia que seus filhos não podiam escapar do fogo, por isso não abandonou, nem os levou para o ninho sobre a árvore, onde a fumaça subiria e o calor se acumularia. Levou-os para debaixo da árvore, provavelmente um por um, e ali ofereceu a sua vida, para salvar a vida deles. Podem imaginar a cena? O fogo os rodeando, os filhotes assustados e a mãe muito decidida, dizendo-lhes: “Não temam, venham debaixo das minhas asas, nada acontecerá”. Estavam tão seguros e protegidos do fogo, que horas depois do incêndio terminado ainda não tinham saído de lá. Estavam confiantes na proteção da mãe; somente após o encostar do guarda no corpo morto da mãe pensaram que deveriam sair. Tens a quem amar assim? Alguém tem te amado assim? Quem encontra um motivo pelo qual vale a pena viver encontra motivo pelo qual vale a pena dar a vida”


Texto de Veronica Balarezo – Quito Equador –
(Rede Latino Americana de Liturgia)

Bênção para uma nova semana

(texto de Vera Cristina Weissheimer)

A semana será “nova” se você fizer de cada dia algo novo. Seja capaz de olhar cada dia como um presente único de Deus. Que você seja capaz de reclamar menos e reconhecer as bênçãos, as grandes e as pequenas. Ah, e elas são diárias, mas é preciso ter o coração aberto para percebê-las. Que você lembre também de dar graças pela vida, pela saúde e pelo amanhecer de cada novo dia. Que a semana que inicia seja especial para você e para sua família. Será especial, porque você a fará assim. Tenha mais tempo para amar mais e melhor, para ficar à-toa, para brincar com as crianças, cuidar das flores, inventar um jardim em seu pequeno apartamento, convidar mais seus amigos... Que possa ter tempo para silenciar e, assim, ser capaz de escutar Deus falando ao seu coração. Que a semana seja repleta de novos encontros e também de reencontros. Com aquelas pedras há muito guardadas, que pesam e machucam, construa alguma ponte. Seja uma bênção, dádiva para outras vidas. Tenha coragem de ser simplesmente você. É somente isso que Deus está lhe pedindo, que você seja você mesmo sem máscaras, sem mentiras. Deixe-se re-encantar pelos mistérios da vida. Que Deus, o Poder Superior, abençoe sua semana, sua vida, seus sonhos, sua jornada, com suas mãos carinhosas que restauram a vida e curam feridas. Que os seus passos, rápidos ou lentos, cansados ou revigorados, conduzam sempre para perto de Deus. Seja feliz e faça feliz

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Saudades...

(Vera Cristina Weissheimer)
Escrevo por ter saudades. Saudades que já não são feridas, são espaços que nada no mundo é capaz de preencher. Mesmo que algo ou alguém pudesse preencher eu não iria querer. Porque, quem deixou os espaços era especial de mais. Como disse o trapalhão Dedé, no primeiro programa após a morte de Zacarias, parceiro de trapalhadas:“Zacarias se foi e hoje, para substituí-lo chamamos “Ninguém”. Ele é insubstituível”. Quem poderia substituir quem amamos? Outras pessoas virão, mas elas ocuparão outros espaço.
Sentir saudades é ser alcançado pelo perfume de quem está longe por pouco tempo ou por uma eternidade. É ter saudades sempre no plural...



Deus de tantos nomes
(texto de Vera Cristina Weissheimer, escrito em maio de 2006, para a Celebração Inter-religiosa realizada na Catedral da Sé, em São Paulo, quando religiosos se reuniram para pedir Paz para a cidade.)

Deus, Tu que tens tantos nomes e, no entanto, És um só.
Olha por Tua gente, derrama a Tua paz e enche nossas mãos com forças diferentes, sabedoria e discernimento para sabermos viver em paz.
Deus, que a Tua mão sustente os que precisam lutar contra a violência, e que eles tenham coragem e fé.
Que a Tua mão sustente os que enterram seus mortos e choram essa desgraça derramada e enxugue as suas lágrimas.
Pelos que choram oramos, porque não há discurso que sare tamanha ferida.
Deus, suplicamos, derrama sobre todos o Teu amor, porque já não sabemos amar e, no final de tudo, seremos julgados somente pelo amor.
Deus, derrama Tua misericórdia tão necessária para esses dias de horror e lamento.
Derrama a Tua paz na medida em que necessitamos e ensina-nos a caminhar por caminhos de luz, porque já não sabemos viver em paz.
Em Teu Nome, pedimos e clamamos: olha por Tua gente,
Deus de tantos nomes.
Único Deus. Amém.

Eterna finitude

(Vera Weissheimer)

Folha seca
Que cai sem temer o vento que a leva
Folha verde que resiste ao vento
Vento forte que insiste
Que dança em sua volta
Vento fazendo ventania
Folhas
Pequenas, grandes
Secas
Até as verdes
Quem sabe colhidas antes do tempo,
Mas quem há de entender
Haverá mesmo algum tempo certo?
A hora certa?
No outono ou primavera
Em qualquer das estações
As folhas são tomadas pelo vento
Brisa ou tempestade
Que dança
E as tira de onde estiverem
Do ipê ou da palma
As folhas rodopiam
E dançam no tempo da finitude
Tempo de eternidade